Gola de Lobo!!!

Golas de lobo com mais de cem anos curam doença de porcos

Ana Barroso Afonso, 43 anos, vive numa das poucas casas da aldeia de Ormeche, concelho de Montalegre e guarda o que diz ser "um bem precioso", uma gola de lobo "com mais de cem anos". Segundo explicou Francisco Álvares, uma gola é um pedaço da traqueia daquele animal que era utilizado para curar a lobagueira, doença dos porcos, sendo que, actualmente, apenas conhece seis pessoas que as tenham. Ao som de uma televisão que berrava anúncios a detergentes, Ana Afonso pegou na gola e fez passar a água que despejou de um recipiente vermelho para uma bacia de plástico azul, no lava-loiças perto da janela, enquanto dizia: "Esta gola foi da minha bisavó, da minha avó, da minha mãe e agora estou eu com ela. Mas já não é tão utilizada como dantes. Ainda há uns meses veio cá um vizinho pedir-ma emprestada para curar os animais. Mas já não vai havendo porcos; vai quase tudo comprar carne à Galiza", continuou Ana Afonso, agora apoiando o seu peso no cabo de uma vassoura. A dona da gola disse nunca ter visto lobos, apenas ouviu lendas da fada do lobo - uma mulher que andava com as alcateias à noite, pelas florestas - e de lobisomens, especialmente "quando era canalha". Por seu lado, o senhor Manuel, pastor de um rebanho de cabras, viu "um lobo adulto no noutro domingo", mas não tem "visto criação", disse a Francisco Álvares, no meio da serra, enquanto vigiava os animais. Segundo Francisco Álvares, os pastores e habitantes das aldeias do Barroso já estão a mudar, progressivamente, a maneira de ver o lobo, um animal que lhe poderá matar os rebanhos. No entanto, ainda aparecem muitos animais mortos a tiro, com laço, envenenados ou atropelados e mutilados, "porque as pessoas cortam patas, caudas e cabeças para usar como amuletos". E quando a conversa no meio do rebanho acabou, Francisco Álvares voltou ao jipe e à terra batida, para se certificar que os últimos lobos selvagens continuam a trilhar as serras do Barroso.